terça-feira, 20 de abril de 2010

O Sentido da Morte na História

1- Morte Domada: Uma nova visão, trazida por Jesus Cristo, se espalha com pujança entre os povos pagãos do Império Romano. Prega um Deus único e misericordioso e promete a bem-aventurança no além ao alcance de todos. Com a perseguição dos Romanos, os primeiros cristãos se escondem durante três séculos para cultuar sua fé esperançosa. Ao longo da Idade Média, a Igreja Católica se empenha em reafirmar sua meta de salvação eterna. Grandes obras de fé são empreendidas: construção de catedrais, peregrinações, cruzadas, pois um código ético estrito, a chamada Vida de Boas Obras, promete a recompensa no Paraíso ou a danação no Inferno. A boa morte é a morte “anunciada” que concede tempo de preparação para o encontro com Deus, momento supremo da vida. A passagem da morte é vivida como um ritual muito solene, liderado pelo próprio agonizante na presença de toda a coletividade, (crianças inclusive). A morte súbita é considerada “infame”, castigo de Deus.

2- Morte de si mesmo: No século XII, com o afrouxamento moral da sociedade e a ameaça das “heresias”, a Igreja Católica introduz uma terceira via de salvação: o Purgatório. É a possibilidade de se arrepender dos pecados no momento da morte e de se purificar no além. A importância do “Momento Mori” é enfatizada, substituindo a Vida de Boas Obras. Isso marca o começo da consciência individual da morte. Os cemitérios passam a se situar junto às igrejas, para que os restos mortais estejam “perto dos santos” que lhes ajudaram em sua purificação.

3- Morte Interdita: Com a entrada na Era Industrial, a sociedade desenvolve um poder tecnológico e científico inusitado até então, que acaba distanciando o homem do respeito aos ciclos naturais e da percepção do próprio corpo. A medicina faz progressos que recuam o limite da morte. Inflada do seu poder, a sociedade tem dificuldades em lidar com os limites e a morte começa a ser considerada como inimiga e vivenciada com angustia. Completamente atéia e materialista, essa visão considera a morte como um simples fenômeno físico sem perspectiva de além.

4- A Morte do Outro: Como reação ao furor patriótico das revoluções, os Românticos reivindicam o direito à sensibilidade e à individualidade, empreendendo uma busca desesperada do sentido existencial da vida. Com esse sentimento, a preocupação com a morte se desloca, enfatizando a dor dos que ficam e não mais o destino de quem parte. A ascensão da burguesia, que presa o patrimônio privado, tira os cemitérios das igrejas e cria verdadeiras cidades dos mortos – as necrópoles - com suas ruas e seus túmulos familiares. A partir daí, inicia-se o culto saudoso “ao outro” que morreu.




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