segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A Morte na I Guerra Mundial



A I Guerra Mundial foi marcada por vários fatores que conduziram ao conflito. Neste postagem buscaremos verificar um outro lado do fato histórico, a sensação da constante presença da Morte para os soldados no campo de batalha, independente de qual lado lutassem. Abro esta postagem com um trecho da carta do soldado Raymond Naegelen:

"O Odor é fétido nos penetra garganta a dentro ao chegarmos na nossa nova trincheira, a direita dos Éparges. Chove torrencialmente e nos protegemos com o que tem lonas e tendas de campanha afiançadas nos muros da trincheira. Ao amanhecer do dia seguinte constatamos estarrecidos que nossas trincheiras estavam feitas sobre um montão de cadáveres e que as lonas que nossos predecessores haviam colocado, estavam para ocultar da vista os corpos e restos humanos que ali haviam" (Raymond Naegelen, região de Champagne) - trecho retirado  do site sobre cartas de soldados da I Guerra Mundial

Como podemos observar, a relação da morte com estes soldados era intensa. Primeiramente eles sabiam do grande risco da perda da vida no campo de batalha, depois presenciavam o potencial do armamento bélico e por fim o medo dava lugar a consciência e ao observamos em todos os textos que podemos ler dessas cartas dos soldados da I Guerra Mundial, era a descrição presente da morte em campo e a saudade que isso conduzia do lar. 

"Conseguem imaginar-me numa tarde de Domingo, sentado no chão ou enterrado numa lama, sem me ter barbeado ou mudado minhas roupas e botas há cinco dias. Temos  muita companhia de ratazanas e ratos [...] Há dias um soldado estava a jantar e um atravessou-se no seu prato, ele espetou-lhe o garfo e comeu-o, depois continuou como se nada tivesse passado. De fato, é dramático que uma nação tão civilizada esteja enterrada numa bárbarie como esta guerra [...] Vivemos como minhocas, nunca vemos a luz do dia, enterrados, ao longo de oito dias apenas vemos os muros da trincheira" (Carta de Thomas, Soldado Inglês, em 1/11/1915)

Podemos perceber nas cartas, nos diários uma "consciência da morte", aos longos dos anos a  morte  ,como um dado antropológico, cuja presença tem sido motivo de angústia para o ser humano ao longo de sua existência, expondo-lhe, inexoravelmente, sua vulnerabilidade de ser mortal.  Nós, humanos, como todos os seres vivos marcados pela temporalidade da vida, lutamos contra a idéia de nossa finitude, sendo que temos buscado o alívio possível para o paradoxo existencial que se apresenta frente ao dualismo vida e morte. Tal paradoxo tem sido marcante na cultura ocidental e agudiza, sobremaneira, essa angústia, tornando mais difícil o seu enfrentamento, visto que colocamos em situação de oposição esses dois momentos de uma mesma realidade: a de sermos seres vivos e que, portanto, iremos morrer um dia,

A cartas e os diários dos soldados durante todo o período da I Grande Guerra, é um ritual de perpetuar as últimas memórias em vida, para não ser esquecido na morte. Dentro dessa perspectiva, a ritualização mítica da morte tem tido a função de transcender o sofrimento pela finitude do ser humano, pois, desde tempos imemoriais, o dado primeiro, fundamental e universal da morte humana é a sepultura, mostrando assim que é isso o que nos assegura nossa ‘humanidade’ em relação aos demais animais. A morte sempre suscitou emoções que se socializaram em práticas fúnebres, e o não-abandono dos mortos implica uma crença na sua sobrevivência, não existindo praticamente qualquer grupo, por muito ‘primitivo’ que seja, que abandone os seus mortos ou que os abandone sem ritos. Esses ritos trazem a imagem de ‘passagem’ para um outro estágio, sempre como metáfora de prolongamento da vida, seja ela através de um sono, uma viagem, um nascimento, uma doença, seja através de uma entrada para a morada dos antepassados. Projeta-se, assim, a vida para um tempo indefinido, mas não necessariamente eterno.


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Os rituais de morte nas irmandades de Escravos e Libertos: Vila Rica, século XVIII

Abaixo apresento a Dissertação de Mestrado "Os rituais de morte nas irmandades de Escravos Libertos: Vila Rica, século XVIII", de autoria de Juliana Lemos Lacet, realizada sob orientação da Profª Drª Andréa Lisly Gonçalves, no curso de História da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), concentrada na área de História Social.


RESUMO

A presença das irmandades leigas em Minas Gerais guarda certas especificidades. Diferentemente de outras regiões do Império, aqui proibida a fixação de ordens religiosas, a assistência social e o culto católico foram de responsabilidade dos leigos. Por isso a compreensão mais ampla da sociedade colonial mineira não pode prescindir da abordagem sistemática da vida confrarial. Também as irmandades erigidas por "homens negros" revelam-se como fontes de fundamental importância para compreensão de uma sociedade que tinha em sua base a escravidão.A morte, momento tão ritualizado no setecentos, ficou sob cuidado dessas associações.O propósito deste estudo foi analisar como a Irmandade do Rosário dos Pretos do Alto da Cruz, em Vila Rica, na segunda metade do século XVIII, cuidou dos enterros de escravos e forros e como estes rituais foram indicadores de outros aspectos da vida na Colônia. Fontes primordiais, que subsidiaram nossa discussão, as atas de óbito e os testamentos constituíram relatos individuais que, não raro, expressaram modos de viver coletivos e informaram sobre o comportamento deste grupo social.  

Realizei a leitura e indico para todos os interessados na relação com a temática!



Fonte: Site do Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI), da Universidade Federal Fluminense (UFF), acessado no dia 17/07/2015, às 11:25. O trabalho encontra-se no ítem PUBLICAÇÕES/ PUBLICAÇÕES ELETRÔNICAS.

domingo, 19 de abril de 2015

A Mentalidade da Morte dos Povos da Mesopotâmia

A perspectiva da morte em torno dos povos da Mesopotâmia era diferenciada daquela apresentada pelos Egípcios. Uma visão um tanto sombrio demonstrava a ligação entre vida e morte nessa interpretação. Os Mesopotâmios tinham a crença de que a morte, o parecer físico da pessoa, acontecia, porém seu espírito ou algo imaterial que fazia o corpo possuir vida, uma espécie de fogo da vida (a alma), após a morte do corpo físico, teria um destino desolador, iria para o mundo inferior, considerado sem retorno. 


A escavação de Woolley revelou o famoso "cemitério real" mesopotâmico, com centenas de sepultas e alguns artefatos culturais

Na concepção do Mundo Inferior, as almas dos mortos se alimentavam de poeira e lodo, e eram resguardadas pela deusa Ereshkigal (Rainha dos Infernos) e seu marido Negal. A religião e o culto aos deuses não geravam a salvação destas almas, por isso a visão pessimista, sempre eram . condenados. Por não acreditarem em vida após a morte, centralizavam em valorizar esta, mas ainda estudiosos buscam compreender o motivo de tamanho pessimismo através da arqueologia e dos monumentos descobertos até o presente momento. 








sábado, 1 de março de 2014

Neandertais e a Morte


Os Neandertais foram os primeiros hominídeos a interpretar a Morte e a religião. Passaram a enterrar os seus mortos com objetos. Um ponto muito interessante a ser estudado sobre A Evolução do Homem. Para fundamentar mais sobre esta espécie, um artigo muito interessante do site Atronoo, pois nada melhor do que especialistas da área para subsidiar uma discussão com sabedoria:

http://www.astronoo.com/pt/artigos/neandertal.html


domingo, 8 de dezembro de 2013

Cemitério em Bananal/SP - A História da Morte em Bananal


Uma nova ideia esta nascendo, um projeto que pode se concretizar com o tempo, é o "Roteiro Turístico de História da Morte em Bananal", surgido através de uma conversa entre os membros do grupo no Facebook Bananal em Fotos, que na disposição de imagens sobre os cemitérios começaram a debater sobre a temática. Fui marcada no post em específico e com isso comecei a observar o enorme interesse do que realmente devia ser feito. Propus a criação de um roteiro voltado a História da Morte e com isso poderei auxiliar em alguns pontos, catalogando e estudando estes cemitérios históricos que muito trazem um pedaço da Identidade local. Neste ponto as discussões se iniciaram e estamos aguardando o início para colocar em prática.


segunda-feira, 4 de março de 2013

A Morte na Busca da Identidade Histórica


A Morte pode ser encarada como uma metodologia de pesquisa interessante para a História, considerando os aspectos arqueológicos. Quando estamos diante a uma pesquisa de restos mortais, sendo eles milenares ou centenários, podemos saber tudo sobre aquela pessoa e começar a montar o famoso quebra-cabeça da História. A forma como somos enterrados diz muito de quem fomos em vida e de nossa sociedade, unindo com outras ciências podemos compreender até sobre o status social da pessoa, só observando o tipo de alimentação da mesma, usando o estudo de proteínas dos ossos.

Um estudo muito interessante esta sendo realizado pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, os restos mortais de D. Pedro I e suas duas mulheres, Dona Amélia (FOTO) e Leopoldina, foram exumados pelo programa de Mestrado do Museu, pela Arqueóloga e Historiadora Valdirene do Carmo Ambiel. Através de ressonâncias magnéticas e tomografias, descobriram que o Imperador tinha quatro costelas fraturadas, demonstrando que em vida costumava gostar de velocidade. Observem que como através da morte podemos conhecer mais sobre a pessoa que esta ali, me recordo a frase de um amigo historiador, Prof. Cristiano Luiz da Silva, "A Vida não termina debaixo da terra, faça de seus mortos Memória Viva", se estudarmos detalhadamente e com muito cuidado os mortos serão reavivados pela Memória Identitária daquele local, por isso o estudo da História da Morte é de grande importância.

O estudos de morte e identidade e a inserção destes no campo da  história reivindicam esforços de caráter interdisciplinar. Esta necessidade é uma exigência  do próprio objeto, na medida em que, no homem, os aspectos numinosos ou mágicos  e  mesmo a sua pretensa ausência – interagem na formação dos espaços sociais e econômicos. Moldam-se homens e nações com tais valores, dominam-se crianças e sociedades com a manipulação do imaginário, por isso a história, a psicologia, a filosofia, a sociologia, arqueologia e a antropologia são as disciplinas que em suas formulações,  constituíram um campo específico para a abordagem do fenômeno proposto neste texto.

Por isto, observem a morte como metodologia para compreender um passado e formar a Identidade a partir das somas das ciências, torne essa uma opção de estudo, pois o campo esta crescendo!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A Santificação da Morte: os moldes da Igreja Católica





O enorme investimento material e espiritual no bem morrer, em particular o sepultamento, tornou-se objeto de crítica dos adeptos de uma ou outra visão da morte, a visão “civilizadora”, que rapidamente ganhava corpo no Brasil na década de 1830. O “bem morrer”, na visão de João José Reis, em sua obra, A Morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX, ele nos remete que são muito as sociedades nas quais se prevalece a noção de que a realização de rituais fúnebres adequados é fundamental para a segurança de mortos e vivos.

[...] as pessoas para quem não se observam os ritos funerários são condenadas a uma penosa existência, pois nunca podem entrar no mundo dos mortos ou se incorporar à sociedade lá estabelecida. Estes são os mais perigosos dos mortos. Eles desejam ser reincorporados ao mundos dos vivos,e, porque não podem sê-lo (sic), se comportam em relação a ele como forasteiros hostis. Eles carecem do meio de subsistência que os outros mortos encontram em seu próprio mundo e conseqüentemente devem obtê-los à custa dos vivos. (GENNEP, 1960 p. 44)

Segundo REIS (1991) se o morto passa ao outro mundo feliz e plenamente, ele poderá interceder pelos vivos junto aos deuses, inclusive facilitando-lhes a futura incorporação da na comunidade dos mortos. O catolicismo humaniza as almas, trabalhando a santificação das mesmas. Neste processo podemos começar a analisar o ritual mortuário dos escravos libertos em nome de Deus, considerando a busca por uma justificação do movimento abolicionista.

No passado as pessoas se preparavam processualmente para a morte, que era comum no imaginário católico no século XIX, fazia-se presente nas discussões cotidianas, as crianças não eram proibidas de viverem tais situações. Ao contrário do sexo, que na época era um grande tabu, a morte era normal ser vivida e preparada. Atualmente falar de sexo é natural, mas lidar com a morte virou um tabu. No espaço destas últimas cinco décadas assistimos a um fenômeno curioso na sociedade industrial capitalista: à medida que a interdição em torno do sexo foi se relaxando, foi se relaxando, a morte foi se tornando um tema proibido, uma coisa inominável. A obscenidade não reside mais nas alusões às coisas referentes ao início da vida, mas sim aos fatos relacionados com seu fim. Uma verdadeira inversão (MARANHÃO, 1985, p. 9)

A boa morte significava que o fim não chegaria de surpresa para o indivíduo, sem que ele prestasse contas aos que ficavam e também instruísse sobre como dispor de seu cadáver, de sua alma e de seus bens terrenos. Um dos meios de preparar, principalmente mas não exclusivamente entre as pessoas mais abastadas, era redigir um testamento. Essa providência, segundo REIS (1991), poder ser entendida como um rito inicial de separação. Em um levantamento, realizado na Divisão de Museus de Taubaté, em testamentos do período de 1823 à 1867, no ano de 2008, pudemos associar os motivos ligados diretamente ao imaginário católico: Uma cartilha de meados do século XIX recomendava como regra de bem viver que os fiéis fizessem seus testamentos enquanto gozassem de boa saúde. Mas era principalmente por ocasião de doenças graves que a morte passava a ser temida, ou simplesmente lembrada. Houve casos que o testador conseguiu enganá-la por muitos anos após a crise de saúde ou de consciência (REIS, 1991 p. 95) Como podemos observar o imaginário católico no entorno da morte envolve especificamente busca da santificação da alma humana e isto encontramos nestes documentos da Igreja como a cartilha citada por REIS (1991), em que ela aplicava os moldes do bem viver.

 A cartilha aplicava que deveriam se preparar para a morte, e como podemos observar no trecho do Testamento de Francisca Aguiar que a mesma preparou sua morte seguindo os preceitos da cartilha apresentada pela Igreja Católica sobre o bem viver, e por isto ao mesmo tempo deixa no decorrer da leitura do documento algumas posses de terras para a Matriz de Bananal, colaborando para a apliação de seu “terreno nos céus”. De acordo com a leitura da Cartilha do “Bem Viver “do século XIX da Igreja Católica, podemos listar dois sumários: Espirituais: 1. Ensinar os ignorantes; 2. Dar bom conselho; 3. Punir os transgressores com compreensão; 4. Consolar os infelizes; 5. Suportar as deficiências do próximo; 6. Orar a Deus pelos vivos e pelos mortos.

Corporais:
1. Resgatar cativos e visitar prisioneiros;
2. Tratar dos doentes;
3. Vestir os nus;
4. Alimentar os famintos;
5. Dar de beber aos sedentos;
6. Abrigar os viajantes e os pobres;
7. Sepultar os mortos.

As Misericórdias proliferaram-se rapidamente por todo o Império, dada a importância que elas adquiriram na vida social da população. Alem da rápida proliferação das Misericórdias, cresceu também o número de outras irmandades, o clero e a burguesia se propuseram a criar ou programar seus próprios sodalícios. Nesta concepção os cativos passaram a serem inseridos no quadro de misericórdia

Os sacramentos eram parte essencial da preparação para a morte, o moribundo deveria receber a extrema-unção, a penitência e a eucaristia, sendo o primeiro o mais importante. A extrema-unção, tanto para a população livre como para a população cativa, era um sacramento, por excelência, purificador, que, paradoxalmente, preparava a entrada do cristão no além e, ao mesmo tempo, podia exercer um efeito de restaurar a saúde debilitada dos doentes. A administração da Eucaristia aos enfermos é ordenada aos sacerdotes para que aplicassem a todos os seus fregueses, tendo estes ainda a obrigação de investigarem, na sua paróquia, se há alguém que precise, o procurasse e administrasse o sacramento. Caso alguma pessoa viesse a morrer sem a Eucaristia por culpa ou negligência do padre, este seria preso e suspenso do seu ofício e dos benefícios por um ano e demais penas que lhe imputassem os visitadores. Podemos notar, através da leitura de alguns assentos de óbito, a importância de se receber os ditos sacramentos, sendo que a ausência de algum destes ritos vinha sempre acompanhada de justificativa. Foi o que ocorreu com Mariana de Souza Oliveira4, preta, forra, que recebeu apenas o sacramento da penitência, pois faleceu de “morte apressada”.