quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Morte para os Egípcios e Processo de Mumificação


Muitos leitores desta minha página enviaram e-mail solicitando que eu apresenta-se algo sobre mumificação. Precisei de algumas leituras para criação de um material de qualidade para ser apresentado aqui. Antes de entrarmos na questão do processo em si, é importante ressaltar que a crença egípcia em relação a morte é basicamente ligada ao contínuo da vida após a morte. 

Nada era mais importante para os egípcios do que alcançar a vida eterna e eles faziam de tudo para chegar até lá. De feitiços rituais, a embalsamamento e construção de tumbas magnifícas, quanto mais dinheiro eles tinham, mais eles gastavam nas suas preparações para a morte. Os egípcios acreditavam que cada pessoa tinha um corpo físico e um ‘ka’ – uma força de vida que continuava após a morte. Este ka precisaria da mesma sustentação que uma pessoa viva, além de entretenimento e os instrumentos de seu comércio. Todos estes itens eram colocados em sua tumba. Principalmente, o ka precisaria se reunir com o corpo físico, e é por isso que os corpos eram mumificados. Os mortos tinham que se juntar ao seu ka para alcançar vida depois da morte mas, como o corpo físico não poderia fazer a jornada da tumba para o submundo, o ‘ba’ da pessoa, ou personalidade, o fazia. Quando o ba e ka se uniam, eles faziam a jornada final para o céu, luz do sol e estrelas, onde os mortos ressuscitavam como um ‘akh’ (ou espírito) e viviam para sempre.

O Livro dos Mortos evoluiu dos Textos da Pirâmide do Velho Reino – os textos funerários mais velhos do mundo. Esses encantos e rituais eram inscritos nas paredes da tumba de egípcios de alta classe apenas. No Reino do Meio estes segredos tornaram-se disponíveis para qualquer um que pudesse pagar um ritual de funeral e eram inscritos dentro dos caixões, para que as múmias ‘lessem’. Eventualmente, os textos de caixão se transformaram no Livro dos Mortos que era bastante usado durante o Novo Reino. O coração era o centro da vida dos egípcios, por isso quatro feitiços eram dedicados para proteger o coração do morto. Feitiço número 23, a ‘Abertura da Boca’, era também crucial, já que restaurava os sentidos da múmia na vida após a morte.

Processo de Mumificação

Foi no século XXVII a.C., sob a IV dinastia, que começou a mumificação propriamente dita, ao ter início o processo de retirada dos órgãos internos do morto (sempre deixando o coração - essencial por razões das concepções acerca da personalidade - e nas primeiras fases muitas vezes também o cérebro, embora também pudesse ser retirado pelo ponto em que a cabeça se insere no pescoço) através de uma pequena incisão do lado esquerdo do abdome, em seguida furando o diafragma para ter acesso também aos pulmões (ummétodo alternativo consistia em injetar pelo ânus um líquido dissolvente, deixando-o por vários dias no interior do corpo): de fato, como fígado, estômago, intestinos e pulmões decompõem-se rapidamente, retirá-los ou dissolvê-los aumentava muito a possibilidade de preservação. Foi também na mesma época que se abandonou o enterro em posição fetal, substituída pela postura estendida. Para tornar o cadáver semelhante à aparência que tivera em vida, usava-se no Reino Antigo enchê-lo de recheios de palha, serragem e trapos; por vezes, o rosto era maquiado. E no Reino Novo, a retirada do cérebro - agora pelo nariz, quebrando-se um dos ossos nasais para inserir um gancho ou pinça - de esporádica que era, tornou-se a regra.

Os passos mais importantes da mumificação completa: 1)remoção de muitos dos órgãos internos (preservados separadamente; no Reino Novo, postos em jarros cujas tampas representavam os quatro filhos de Hórus, deuses protetores); 2)cobertura, com um sal de sódio, o natrão, que (...) tem propriedades desidratantes e antissépticas, do corpo já esvaziado (...); 3) uma vez terminado o ressecamento pelo natrão, tratamento da pele para devolver-lhe mediante certas substâncias alguma elasticidade; 4) preenchimento das cavidades do corpo, resultantes da remoção de órgãos, após lavagem com vinho de palmeira (segundo Heródoto), com recheios que variam segundo a época (sendo que, em alguns períodos, as vísceras embrulhadas eram repostas dentro do cadáver); 5) envolvimento do corpo (começando com cuidadosa moldagem dos dedos e dos órgãos genitais) com tiras de linho, entre as quais se punham amuletos especificados pela literatura funerária, atividade que consumia cerca de 15 dias; 6) a partir de fins do III milênio a.C., teve início o hábito de cobrir a cabeça da múmia com uma máscara que reproduzisse os traços que tivera em vida, muitas vezes confeccionada de tecido endurecido com gesso e posteriormente pintada e dourada, mais tarde, no caso de reis, feita de ouro ou prata com incrustações de lápis-lazúli e outros materiais preciosos. O processo mais completo de embalsamamento durava em princípio 70 dias (cifra ligada ao ciclo da estrela Sirius), mas há casos conhecidos em que tomou mais tempo. Todas as suas etapas eram acompanhadas da leitura de textos rituais por sacerdotes



Um comentário: